Pauliceia Desvairada de Mario de Andrade e eu no cárcere

Já são quatro semanas de quando sofri uma queda e quebrei a tíbia e me encontro no castigo da ausência de liberdade.

Para aliviar os dias, tenho buscado me distrair com filmes, séries, livros, textos, vídeos, conversando com os amigos e familiares preocupados com meu estado, indo um pouco além da realidade dos exercícios para ativar a circulação, trazer mobilidade e recuperação mais imediata.

Hoje, por escolha de Carlos, meu companheiro de vida, das alegrias e das tristezas, da saúde e da doença, pois até me faltava disposição para escolher o que ler, me deparei com Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade, um livro que está na minha estante há tempos, já que a vida é sempre tão corrida e ler não tem sido tão prioridade como gostaria e deveria ser.

Logo no “Prefácio interessantíssimo”, por sinal, interessantíssimo, sem ser redundante, me deparo com essa frase:

Toda canção de liberdade vem do cárcere.

Genial. Profundo. Real. Bem resume meu sentimento nos últimos dias.

É nessas horas que também vejo o quão poderoso é ler. Ler faz a gente ver as realidades, reconhecer outras vivências, refletir sobre as coisas. Ler faz a gente respirar, reconhecer nossos pensamentos e se identificar com outras pessoas.

Ler e escrever faz eu me sentir mais perto da inquietude.

Desculpe a audácia, mas, sim, hoje me reconheci em Mário de Andrade. Perceber a liberdade quando não a tenho. Ainda.

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