Uma reportagem do R7, intitulada “Crianças mantêm relação sexual com donos de balsa em troca de comida no Pará”, retrata uma das realidades cruéis do Brasil, no caso, na região Amazônica.
Sem contar o título da reportagem, um tanto estranho, já que não se trata de relação sexual simplesmente, mas sim de exploração sexual, estupro, afinal estamos falando de adultos que “usufruem” de menores, há uma denúncia gravíssima. Em troca de alimentos, muitas crianças e algumas até maiores de idade, aproximam-se das balsas, sem segurança algumas (algumas nem nadar sabem!), para que possam “ganhar” alimentos, brinquedos e demais itens, já que não os possuem em casa. Em algumas situações, podem até ganhar mesmo, de graça, “na faixa!”… Mas, na maioria das vezes, há uma troca entre abusadores e abusados.
Boa parte dos moradores da região, beneficiários do Bolsa Família, encontram-se numa situação de extrema miséria e pobreza, ainda que com o benefício.
Imagino que você, ao assistir a matéria, tenha feito n questionamentos, como: “Como esses pais deixam essas crianças entrarem nesse barco?”ou “Por que esse pobre casal fez tantos filhos, se não tinha condições de criá-los? Recebe Bolsa Família (grandes R$ 400, como no exemplo) e ainda deixa as crianças passarem por isso?!” ou “Cadê os pais dessas crianças? Não trabalham?” ou ainda “Ah! Mas essas adolescentes também gostam dessa situação!”, dentre tantos outros… Não o condeno por isso! Há situações que indignam mesmo, nos deixam “chocados”! Eu também fico perplexa. Mas prefiro não julgar tais situações e atitudes desses envolvidos, a não ser dos abusadores das balsas mesmo, que não querem em nada ajudar. Não é possível que alguém pense que isso é ajudar! É abuso mesmo! Até por que sempre me pergunto: E se eu estivesse no lugar dessas crianças? Desses pais? Com essa pobreza?
Só me vem a cabeça dois lados a pensar: Até quando essas pessoas terão que enfrentar a fome e viver nesse mar de não-oportunidades? Quando vão e quem(s) pode resolver isso? E… Até quando alguns em situação melhor continuarão abusando do poder para se beneficiar do outro que está na pior? Até que ponto vai o egoísmo humano?
Como disse anteriormente, sei que tendemos a ficarmos “putos” (desculpe o palavrão!) com os familiares dessas crianças, mas além de não sabermos toda a realidade que essa família vivencia, precisamos entender que essa é só a ponta do iceberg.
Melgaço, Pará, é a cidade do Brasil com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por aí já dá para tirar algumas conclusões de como as coisas chegam ao ponto que estão: fome e miséria geram consequências ainda muito piores aos que por elas vivenciam. Por isso, não adianta “exterminar” pessoas, pobres, mas sim a pobreza, a miséria, a fome.
Sei que há casos em que as pessoas conseguem ultrapassar tais barreiras e “dar a volta por cima”, talvez até por mérito (veja meu artigo sobre meritocracia), mas essas são exceções e que não podem sobrepor a realidade de uma maioria do país. Infelizmente, o Brasil está a caminho do Mapa da Fome, novamente. Ao invés de avançar, parece que o retrocesso insiste em persistir.
Apesar de muitos julgarem o tal dos Direitos Humanos, na reportagem, temos uma mulher representante do órgão que, ainda que com ameaças, tem tentado lutar para mudar essa realidade. E nós? O que podemos fazer para que tal realidade mude?
A pobreza, a miséria, é um mal que afeta o mundo e parece não ter fim. Há solução?
Até quando a desigualdade vai estar no topo?