A igreja precisa parar de romantizar a violência doméstica. Sim! Já começo assim, porque é intragável ver que isso ainda é realidade, principalmente entre as igrejas evangélicas (40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas).
Claro que não podemos generalizar, afinal há igrejas que já compreendem a seriedade dos fatos e indicam a denúncia para casos de violência doméstica contra a mulher. Algumas já trazem esse debate para as pautas dos sermões, dos aconselhamentos, bem como denunciam caso isso ocorra.
Mas é difícil ver uma das principais cantoras do gospel, Cassiane, gravar um clipe com cenas de violência doméstica, em que se cogita uma transformação de vida a partir do cristianismo (e essa transformação pode acontecer, diga-se de passagem), mas em que não há um arcar com as consequências dos atos, bem como a mensagem de utilidade pública de um disque 180. Perdão não é ausentar-se da responsabilidade. Perdoar não é sinônimo de que quem feriu não deverá responder pelos seus atos, ainda mais criminalmente. Sim, criminalmente.

Não é minha intenção crucificar Cassiane, mas Cassiane precisa entender que é uma cantora que tem uma carga e grande influência dentro das igrejas, principalmente entre as igrejas pentecostais e neopentecostais, muitas daquelas em que é comum o uso do playback pela falta de estrutura musical proveniente de igrejas em periferias e de bairros mais simples, onde muitas vezes o grau de instrução da membresia é razoavelmente baixo por falta de oportunidades, além do fato de que em muitas a masculinidade tóxica é presente e o machismo também. Não dá para passar pano nos números. Não dá para eximir a responsabilidade de nós ditos cristãos, que devemos ser semelhantes a Cristo e este tipo de comportamento passa longe da figura que foi Jesus. Novamente, perdão é uma coisa. Eximir-se da pena, afastar-se da consequência do ato e não responder por isso, passa longe daquele que se diz ter a vida transformada.
Infelizmente, o clipe foi infeliz, errôneo e deve ser tirado do ar mesmo. A MK, a Marina e os demais produtores também precisam entender suas responsabilidades. Vocês não nasceram ontem, nem no mercado gospel.
Em um país onde 40% das mulheres que sofrem violência doméstica se dizem evangélicas, como pode ainda muitos evangélicos normalizarem essa discussão, sem crítica, sem denúncia, sem responsabilidade social e com o Reino e ainda, muitas vezes, jogando para baixo do tapete?
Não dá!
Espero mesmo, que além da retratação da Cassiane que ela já fez, o clipe saia de vez do ar, e mais do que isso, ela enquanto líder entre os cristãos, compreenda a necessidade de entender tal problemática e torná-la pauta entre as igrejas das quais ela frequenta. Ela realmente já plantou ótimas coisas e isso não pode ser apagado, mas ela agora precisa aprender com os erros e reconhecer e levar em pauta essa realidade. Isso é imprescindível, afinal ela é influenciadora entre os “irmãos”.
Cassiane, Marina e MK… as críticas podem ser duras, mas são necessárias, afinal foi um golpe pra muitos ver um clipe como esse diante do caos que a realidade da iglesia vivencia e sustenta.