Esta semana, um dos principais espaços históricos da França e do mundo padeceu pelas chamas. A Catedral de Notre-Dame de Paris possuía mais de 800 anos e arquivava uma série de preciosidades da história, como o fragmento da cruz de Cristo, a coroa de espinhos e o prego sagrado, além de esculturas, como a Pietà dans le Choeur, a imagem de Joana D’Arc e a Galeria dos Reis, composta por 28 estátuas de 3,50 metros de altura cada, representando figuras do Antigo Testamento e monarcas franceses, dentre outros.
Os prejuízos ainda não totalmente calculados e o abalo emocional de muitos, tanto pela questão histórica e cultural, como também espiritual para alguns, teve como resposta imediata o anúncio do governo francês de viabilizar a construção da nova Catedral, amparado sob intensas doações recebidas de alguns milionários do mundo. E isso é legal, mas…
Torna-se inevitável não lembrar de outras situações desastrosas pelo mundo e as diferentes reações a cada uma delas.
Em menos de uma semana, para a sua reconstrução, a igreja recebeu doações na casa dos bilhões, enquanto que, em contrapartida, por exemplo, a UNICEF conseguiu arrecadar na casa dos 100 milhões, no intervalo de mais de 1 mês, a serem destinados às vítimas do desastre em Moçambique… Sem contar outras situações como têm vivenciado a população do Haiti e outras vítimas (geralmente pobres e negros) de todo o mundo.
O que me intriga é o investimento em templos físicos versus o investimento em e o acolhimento de pessoas. O que me incomoda é ver o outro ao lado passando fome sendo que há tanta riqueza nas mãos de poucos e que esses poucos, por muitas vezes, são mais solidários a perdas materiais do que a perdas de pessoas, de outros humanos como eles.
A Catedral dedicada a Maria, Mãe de Jesus Cristo, dois personagens símbolos de humildade e amor ao próximo, constrói agora o paradoxo de apego às coisas e não às pessoas.
Está tudo na contramão.