O desafio de ser professor no Brasil

Mês de Outubro, no Brasil, mais especificamente no dia 15, é celebrado o Dia do Professor. Apesar de passados alguns dias, mais do que homenagem, trago aqui algumas reflexões sobre a valorização desse profissional e suas implicações na sociedade brasileira.

Apesar de reconhecer apenas algumas realidades escolares, vim de uma família de professores (pai, mãe e irmã) – por sinal, era bastante comum o ambiente escolar ser pauta de assuntos nos almoços de domingos. Além disso, também exerci a profissão por 3 anos, aproximadamente, além de conhecer tantos outros colegas da área que relatam suas experiências e angústia, principalmente na rede pública de Ensino no Paraná.

Observando uma pesquisa do Instituto SWNS realizada entre aproximadamente 3000 pessoas, a profissão “professor” foi apontada em 5º lugar como a mais estressante, pelos pontos relatados a seguir:

“Lidar com o ensino requer paciência, pois cada aluno tem o seu tempo para aprender. Por ser uma rotina desgastante e por muitas vezes de jornadas longas, é uma carreira estressante. A preparação de aula, correção de provas e tarefas traz uma rotina difícil para esses profissionais, principalmente no final do ano letivo.”

(Fonte: https://www.guiadacarreira.com.br/profissao/profissoes-estressantes/)

Além dessa justificativa, o professor também se depara com mais alguns desafios. Dentre esses desafios, destaco 5 (obs.: alguns tópicos, especificamente, estão voltados apenas aos que trabalham no sistema público de ensino fundamental e médio):

  1. Tanto a sociedade, quanto os governantes tendem a não dar a devida importância à educação como deveriam, principalmente reconhecendo-a como essencial na prevenção de tantos outros problemas sociais e isso acaba sendo refletido na relação professor/escola, professor/sociedade, professor/aluno e professor/professor. (Veja um relatório da UNESCO de 2015 sobre esse tema).
  2. Talvez até como consequência do que é descrito no tópico 1, muitas vezes a sociedade, inclusive até professores, têm dificuldades em distinguir o sistema político, identificando quem é responsável por distribuir as verbas para educação nas esferas federal, estadual e municipal. Tal fato agrava a quem cobrar quando não há, por exemplo, material escolar e demais recursos disponíveis ao professor e aos alunos, falta de merenda escolar e/ou até mesmo dificuldades com a manutenção dos prédios escolares com gastos básicos. A critério de informação, espaços acadêmicos e demais institutos federais recebem a verba e a administração do governo federal; as escolas estaduais recebem a verba e atendem ao governo estadual e as escolas municipais são administradas pelos municípios. Isso justifica, por exemplo, algumas greves de professores localizadas em apenas alguns estados, por exemplo, e não no Brasil todo, quando um problema é de administração estadual e não federal. (Aproveito e indico uma leitura informativa: https://www.politize.com.br/niveis-de-governo-federal-estadual-municipal/).
  3. Além do que observado nos tópicos 1 e 2 e sob reflexo do que apresentei nesses dois tópicos, os professores no Brasil, de modo geral, vivenciam historicamente diversas formas de censura pelos conteúdos e discussões levantadas em sala de aula, principalmente nos dias de hoje em que há uma polarização de ideologias e propagandas desvalorizadoras do trabalho desses profissionais. Tal censura e/ou desvalorização se dá em partes até pelos próprios colegas de profissão que tem ideias diferentes e uns veem no outro a relação de “concorrência” (fato que prefiro não me ater no momento); há também represália por parte dos pais e/ou responsáveis, fato que geralmente ocorre por parte dos que são alheios ao processo escolar de suas “crias”. Hoje, ainda, os professores têm ouvido um discurso inflamado de muitos governantes, que têm dado voz a mais intolerância quanto a esses profissionais, muitas vezes sob a estratégia de retirar de seus ombros o fardo da falta de investimento e promoção da área educacional. Como se não bastasse, em alguns casos algumas esferas eclesiásticas também têm acalorado tais discursos. Tais represálias se dão principalmente em relação aos professores da área de Humanas, área que, infelizmente, tem sofrido os ataques por justamente envolver assuntos polêmicos, como abordagens sobre ideologias políticas, religiosas, dentre outros assuntos como defasagens sociais, intolerância e preconceito, além de apresentar dados históricos, que são totais influenciadores do presente que vivenciamos. – Não é a toa que muitos lutam apenas pela Matemática e pela Língua Portuguesa… Não há riscos de educar ao livre pensamento ou, como alguns preferem, não há riscos para doutrinação (risos). IMPORTANTE: Claro que há bons (a maioria) e maus professores, como qualquer profissão, mas é importante salientar que os responsáveis tem todo direito e DEVER de acompanhar suas crianças e adolescentes, EM TODO O TEMPO.
  4. Seguindo o ponto anterior, infelizmente, a relação “professores, comunidade escolar (pais, alunos, outros professores), sociedade e governo” está longe de ser uma relação bem costurada. O que se vê é um distanciamento cada vez mais contínuo entre as partes. Procure, por exemplo, perguntar aos professores que você conhece, quantos pais são participativos, ao menos nas reuniões pedagógicas… pergunte também sobre a rotina, quantidade de alunos em sala, quais recursos disponíveis para trabalhar, carga horária para hora-atividade, relação alunos e professores, rendimento do alunado, dentre outros aspectos. Na contramão, o envolvimento dos responsáveis é menor, porém os “palpites” aumentam, o que é entristecedor pensar que estamos lidando com a qualidade de educação de suas “crias”.
  5. Outro desafio é lidar com várias realidades em sala de aula e com opiniões distintas, trazendo um discurso conciliador e de respeito mútuo, enquanto o país diz o contrário. O professor quando testa aplicar um debate em sala de aula, tende a ver o reflexo da sociedade cada vez mais intolerante ao que pensa diferente, em que a “solução” se confunde no “calar o outro”, no “não dialogar” ou na “agressão” mesmo, seja ela verbal ou física.

 

Há muitos outros desafios que não menciono aqui, mas que pude perceber nitidamente a diferença com outros países, como Itália e Inglaterra, que tive a oportunidade de conhecer um pouco mais de perto (voltarei a tocar nesse assunto futuramente).

Por agora, deixo apenas meus parabéns ao voto de coragem diário de todos os professores que conheço e respeito. Essa profissão realmente não é para qualquer um!

Aos que estão sentindo-se fracassados ou desanimados com os rumos da educação, reforço: continuem fazendo a parte de vocês com excelência e levando à frente essas tantas vidas que passam por vocês. Continuem plantando! A semeadura é longa, mas os frutos hão de dar!

 

 

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