Por Aline Gasperi.
Postagem original:
Porque uma revirada de olhos vale mais do que mil palavras.
Estamos oficialmente em período eleitoral, onde os debates acontecem não só entre os candidatos, mas entre os próprios eleitores que, por vezes, acabam perdendo muitos amiguinhos por manifestar suas opiniões publicamente.
Esse ambiente cansativo é favorável ao afloramento de uma espécie peculiar de homo sapiens: aquele que, na ausência de uma fundamentação articulada, corrije o português do outro. Em outras palavras, o embuste.
Sim, embuste, porque a definição popular da palavra também inclui aqueles que, frequentemente, corrigem o português alheio para aparentar superioridade, mas só acabam reafirmando sua impotência argumentativa.
O dicionário tradicional configura como embuste o seguinte:
EMBUSTE: Mentira artificiosa; embusteirice, embustice, logro.
Já a sabedoria popular confere significados mais complementares à palavra:
EMBUSTE: 1. Termo reduzido para “pessoa com grande capacidade de causar reviramento de olhos“; 2. Ex que não larga do pé; 3. Chefe mala; 4. Aquele que dá spoiler; 5. Quem corrige quando alguém fala errado; 6. Parente que dá bom dia no grupo da família; 7. Boy lixo.
Nota-se, portanto, que o dicionário tradicional está levemente incompleto, pois a segunda definição, a não oficial, é bem mais fiel ao contexto em que é usado o termo, mas acredito que em breve os dicionários mais competentes deverão fazer essa atualização.
Parece brincadeira, mas é sério. Em um dos espirros de sabedoria do nosso mentor supremo, professor Pasquale, ele disse o seguinte: “A palavra existe porque está no dicionário? Não, ao contrário, ela está no dicionário porque existe”.
Independentemente de todo assunto linguístico que rodeia o termo, vez ou outra é necessário saber lidar com esse gênero, pois, normalmente, ele já aparece armado (figurativamente, mas dependendo do candidato em questão, podem estar no sentido literal também).
Na maioria das vezes, o embuste já está envergonhando a si mesmo de graça, portanto você não vai precisar fazer muita coisa, mas em muitos casos pode ser que uma resposta seja necessária para que ele tome consciência da desnecessidade de sua apelação.
A palavra “embuste”, neste caso, estará sendo usada para se referir tanto ao gênero feminino quanto ao masculino, ou qualquer outro gênero que possa ser contemplado, pois entende-se que é uma condição que pode atingir a qualquer pessoa.
Sugiro, portanto, algumas opções para amenizar essa situação constrangedora, caso aconteça com você:
1. EVITE FAZER O JOGO VIRAR CONTRA VOCÊ
Parece óbvio, mas vamos começar do básico. A ideia é deixar a pessoa desconsertada, mas você não precisa fazer isso a todo custo. Evite ser agressivo, racista, machista, homofóbico ou fazer qualquer comentário que possa te colocar em uma posição inferior ao do próprio embuste.
2. PROCURE ALGUM ERRO ORTOGRÁFICO NA ENUNCIAÇÃO DELE TAMBÉM
Se o embuste quer partir para a baixaria, ele está te autorizando a usar baixaria com ele também. Imagine o desgosto de ver a ofensa dele sendo completamente anulada ao apontar o erro ortográfico dele.
3. PARABENIZE O EMBUSTE
Seja irônico, agradeça pela correção e dê os parabéns por ele estar em um nível de ensino muito mais elevado em relação aos demais eleitores deste candidato. Se quiser ir além, diga que agora que ele corrigiu o seu português, você se convenceu de votar no candidato dele.
4. RESPONDA COM UM EMOJI DE UNICÓRNIO
O embuste vai ficar perplexo por não entender o que você está querendo dizer com esse símbolo ancestral. A verdade é que você não quis dizer nada, apenas quis colorir o espaço.
5. DIGA QUE ELE TEM PIPI PEQUENO
Responda com o mesmo grau de infantilidade que ele usou contra você. Se for mulher, a sociedade já conseguiu, sem a sua ajuda, diminuir bastante a autoestima dela, então é melhor evitar respostas que envolvam a aparência dela, estude as outras sugestões.
6. IGNORE
Nada é mais frustrante para um embuste do que não receber a atenção que ele tanto apela para ter.
7. FAZ A FALSIANE
Se você é do tipo que não gosta de criar barraco e não quer perder a amizade de alguém por conta de um candidato que nem sequer sabe da sua existência, há a opção de ser simpático e fingir que entende a opinião dele e que não se importou com a correção ortográfica. É o famoso “fazer a falsiane”, que tem dado certo por séculos.
FALANDO SÉRIO
O domínio da norma culta é um fator que confere status e é um elemento capaz de fortalecer a imagem de alguém, para o bem ou para o mal.
O uso metalinguístico da linguagem para atacar ao outro só prova o quanto ela é valiosa e pertinente nos processos que envolvem as relações de poder.
Usar a norma culta para desmerecer opiniões alheias, por mais sujas que elas aparentem ser, pode configurar, sim, uma forma de preconceito, ainda mais se os próprios argumentos forem colocados em questão por conta de uma falha gramatical, cuja rigidez é desnecessária em ambientes informais e seu uso inadequado sequer impede alguém de desempenhar o direito de voto.
Apesar de ser um recurso tentador em muitos casos, há outras maneiras de refutar opiniões e posicionamentos partidários sem precisar partir para a ofensa.
Eu costumo pensar que sai vencedor em uma discussão aquele que usa recursos inteligentes e racionais ao invés de apelativos e passionais. A ofensa é completamente passional, ainda que seja pensada.
Você que reclama do médico que perde a humanidade quando esfrega o diploma na cara do zelador, não deveria usar um recurso tão inferior quanto este.
Conhece mais alguma forma de lidar com um embuste nessas ocasiões? Você já passou por isso e tem alguma história para compatilhar? Comente aqui!