Elaine Nascimento: engenheira eletricista e mulher de fibra

Da série Pessoas que Inspiram, Elaine Nascimento: engenheira eletricista e mulher de fibra.

Elaine Nascimento, 32 anos, nascida em Belém do Pará, Brasil, é engenheira eletricista, mulher. Sim. Enfatizo a profissão e o sexo, pois essa é uma dicotomia que ela enfrenta constantemente na vivência de sua profissão e isso a faz ser quem é e a torna inspiradora, dentre outras qualidades.

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Elaine define sua profissão como aquela que trabalha com desde a geração de energia até a sua utilização. Especificamente, Elaine trabalha com manutenção e fiscalização, sendo uma espécie de “médica” de equipamentos: “Trabalho para que os equipamentos como geradores, Chiller, bombas, motores, etc., nunca parem de funcionar e, se porventura pararem, que estes se reestabeleçam o mais rápido possível” – afirma Elaine.

Elaine trabalhou em grandes empresas do ramo. Já foi gestora de contrato Facilities, pesquisadora do Laboratório de Caracterização de Materiais Metálicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), pesquisadora de soldagem robotizada aplicada a aços navais, além de executar o trabalho autônomo.

Atualmente, no Brasil, sua área de atuação tem sido associada a diversos escândalos de corrupção e, quando a questionei sobre achar-se ou não inspiradora para outras pessoas, Elaine foi pontual em afirmar que sim, visto que diferencia-se dessa realidade justamente por ser ética e honesta, não aceitando artifícios, o famoso “jeitinho brasileiro”, ou propinas.

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Além desses entraves, Elaine conta que já sofreu muito preconceito como profissional mulher: “Por trabalhar numa área predominantemente masculina e até quando era mais nova, ouvi expressões como “Uma mulher engenheira eletricista???”, ou “Nossa! Você é a primeira engenheira mulher que contrato! Não vá fazer besteira!”, “Você vai trabalhar em área de mineração no meio da Floresta Amazônica?!”, ou ainda “Essa mulher que vai coordenar a gente? Vamos testá-la para ver se ela sabe!” e, ainda mais longe, “Seu currículo é excelente, mas a vaga é masculina”.”. Pois é! Mulheres que trabalham em áreas em que os homens são maioria tendem a enfrentar tais barreiras e com Elaine não foi diferente.

De modo a superar tais adversidades profissionais, ela fez vários cursos de capacitação, inclusive os não tão diretamente ligados à área, como Gestão Pessoal. Além disso, Elaine passou a usar outras estratégias para se garantir na área de atuação e ampliar suas habilidades: entrega de seus resultados com bastante agilidade, sempre atenta aos demais profissionais, técnicos, que com ela trabalhavam, além de ler muito sobre psicologia e tentar aplicar em seus relacionamentos. “Com o tempo a equipe ia cansando de me testar “para ver se eu sabia” e fui ganhando o respeito e admiração de vários colegas de trabalho e liderados…” – afirma Elaine.

Elaine, também, foi a primeira mulher a trabalhar no Norte do Brasil com soldagem robotizada aplicada à construção naval, junto ao processo Flux-cored arc welding (FCAW) e seu artigo foi aceito no grande Congresso Panamericano de Construção Naval, Transporte Marítimo e Engenharia Portuária, o que é um grande passo, “afinal Nortista, mulher nesta área e ter seu trabalho aceito em um congresso deste porte é maravilhoso!”, afirma.

Além das barreiras machistas na profissão, como mencionado anteriormente, ainda na faculdade, Elaine se deparou com outro desafio de vida: um grave problema de saúde, em que quase teve seu pé esquerdo amputado, devido a um diagnóstico médico errôneo: “Graças a Deus e aos médicos, a cirurgia ocorreu bem e, apesar de ter ficado 6 meses sem poder andar direito, meu pé ainda está aqui para percorrer ainda mais caminhos… e tudo claro com o apoio da família!”, conta Elaine.

Por falar em faculdade, em sua formatura, sendo a única mulher da turma, Elaine foi escolhida como oradora dentre e por tantos homens.

Elaine afirma sofrer de uma inquietude constante: “sempre procuro coisas novas e novos desafios… quando me formei, me achei em uma zona de conforto e, então, decidi fazer parte do meu mestrado em Brasília, na Universidade de Brasília (UNB),  numa cidade que não conhecia… fui, como dizem, “sem eira e sem beira!””. Foi aí que Elaine cursou as matérias de mecatrônica e, após um ano, retornou a Belém, mudando, novamente, em seguida, para a Bahia, tudo para não se acomodar e mais uma vez se entregar ao “novo”: “Agora mesmo estou novamente na zona de conforto e doida para sair dela novamente. Quem sabe não rola um doutorado em outro país e já aproveito para aprender um novo idioma?”, diz Elaine Nascimento.

Além de todo o currículo, de todo o seu desempenho profissional, como ser humano, Elaine Nascimento defende a bandeira do amor e da empatia, algo que para ela faz toda a diferença para mobilizar a sociedade para melhor: “Se cada um fizesse algo de retorno à comunidade em que vive, seríamos instrumentos de mudança na sociedade”, ela defende.

Colocando tal conceito em prática, Elaine trabalha voluntariamente em um projeto denominado “Amor que Move a Rua”. Tal projeto consiste em distribuição de roupas e de alimentos, além do apoio emocional e social para pessoas em situação de rua: “Aprendi que nas ruas existem muitas pessoas honestas e trabalhadoras e que o dinheiro que ganham não os permitem ter uma moradia, uma alimentação adequada, enfim, o básico para uma vida digna! Conheci muitas histórias, inclusive de más decisões tomadas e sim: nem todos que moram na rua são “marginais” como muitos apontam!”, defende Elaine.

Elaine se define como prática e objetiva e essa praticidade e a luta pela conquista de seus objetivos, realmente, faz a Elaine ser alguém que inspira. Pessoa que inspira pela ética, pela moral, pela mulher e profissional que está disposta a quebrar barreiras socias, por sinal, machistas, e que, ao mesmo tempo que é exemplo de fortaleza, compreende a necessidade de ser empática com as pessoas com quem convive, associada a “pitadas” de amor.

Assim como alguém que inspira, Elaine também se inspira em outra pessoa: sua avó materna, D. Neide, uma mulher com ensino escolar até a segunda série do fundamental e mesmo assim não se limitou em aprender matemática e ler vários livros. “Todos acham que ela tem nível superior, mas sempre foi uma mulher à frente de seu tempo. Costumo dizer que se ela tivesse nascido em outra geração, com certeza seria uma cientista”.

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Como dica e até como lema para a vida, Elaine gosta de lembrar de Shakespeare: “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar (William Shakespeare).

 

Elaine que inspira. Elaine que se inspira em D. Neide. Pessoas que inspiram… é assim a vida… quem te inspira?

 

 

 

 

 

 

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